"Momento histórico": o Big Bang foi recriado no CERN
O presidente do Laboratório de Instrumentação e Física Experimental de Partículas (LIP), Gaspar Barreira, sublinhou com entusiasmo à Lusa o "momento histórico" que hoje se viveu no CERN (Laboratório Europeu de Física de Partículas), perto de Genebra, seguido em directo no auditório do Pavilhão do Conhecimento, em Lisboa.
"Foi o momento em que se criou em laboratório a maior densidade de energia jamais criada pelo homem. Os acontecimentos que estamos a ver naquele detector são os acontecimentos que tinham lugar no Universo nos primeiros microsegundos da sua existência", enfatizou o responsável do LIP, entidade que gere a colaboração portuguesa no CERN.
O arranque previsto para hoje sofreu um primeiro revés cerca das 8:00 (hora de Lisboa), quando uma "flutuação no abastecimento eléctrico" do CERN interrompeu a preparação da colisão de dois feixes de protões dentro do Large Hadron Collider (LHC), o maior acelerador de partículas do mundo.
Esta máquina, constituída por um anel de 27 quilómetros de circunferência, refrigerado a cerca de 271,4 graus Celsius negativos, e quatro enormes detectores do movimento das partículas, construída a cerca de 100 metros de metros de profundidade, necessitou de cerca de três horas para recuperar a energia necessária para que a colisão dos feixes de protões produzisse os efeitos esperados
O "pequeno acidente" de hoje "vai acontecer centenas de milhares de vezes no futuro", desvalorizou Gaspar Barreira, acrescentando que, mesmo para o LHC há "coisas que são imprevisíveis".
"Cometemos o erro de ser demasiado optimistas há dois anos", pensando que "bastava ligar o interruptor e que tudo se passava bem. Era uma ilusão. Isso não se passa nem quando se testa um avião, nem sequer quando se monta um novo candeeiro", comparou Gaspar Barreira.
"Foi preciso um pequeno acidente, uma soldadura defeituosa" e "muita paciência" para se chegar aos resultados de hoje, que são "janelas para a nova física".
"A fase em que nos encontramos em termos de física das partículas é que, neste momento, aquilo que não sabemos está em fenómenos extremamente raros", explicou Gaspar Barreira.
Por isso, "são necessários anos para acumular informação suficiente para descobrir alguns desses fenómenos. Entre dois e três anos será o tempo suficiente para começar a aparecer a descoberta", elucidou.
A colaboração com o CERN, do qual Portugal é dos países fundadores, permitiu já a formação de avançada de engenheiros portugueses - cerca de 140 em dois anos -, de outros cientistas, tendo a própria construção da máquina contado com a participação de várias empresas nacionais.
O investimento directo no LHC foi de quatro mil milhões de euros, divididos pelos 20 países fundadores, entre os quais Portugal, tendo o custo dos quatro detectores sido cerca de metade do da máquina e distribuído por mais países.
Gaspar Barreira resume: "É muito dinheiro, mas é o equivalente a cerca do custo de um submarino nuclear, e há centenas, é o equivalente a dez 'Destroyers' da marinha portuguesa, e penso que é um objecto mais útil do que aquilo que acabei de citar".